Soneto de Agosto

Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados Amamos, vagamente surpreendidos Pelo ardor com que estávamos unidos Nós que andávamos sempre separados. Espantei-me, confesso-te, dos brados Com que enchi teus patéticos ouvidos E achei rude o calor dos teus gemidos Eu que sempre os julgara desolados. Só assim arrancara a linha inútil Da tua eterna túnica inconsútil... E para a glória do teu ser mais franco Quisera que te vissem como eu via Depois, à luz da lâmpada macia O púbis negro sobre o corpo branco. Vinicius de Moraes

Novembro

Aproximo-me com certa distância
do mês de novembro,
querendo coisas esquecidas
no fundo dos bolsos,
buscando a mim e em mim apenas salvação
e promessa.

Este corpo que está um ano
mais velho não está cansado
de viver ainda.
Está mais incompreendido,
mais trancado,
mais arisco.

Há vida após a vida.

Morri com minha filha em meus braços,
e nos braços de minha mãe,
Morri no colo de minha irmã
e com a minha sobrinha em meu colo.
Eu sou quase eu mesma
com um pouco mais de sal.

Novembro assusta-me.

O que é o porvir?

Aguardo os dias
com as mãos sobre o peito:
não quero que ninguém ouça
o barulho do meu coração
quando eu sou do tamanho de uma lágrima. 

Sento nas consoantes de novembro
caçando dias
com claros enigmas
e mansidão
porque a vida precisa
de ilusão também,
porque 
sou uma pastora de nuvens.

Karla Bardanza

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