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Mostrando postagens de julho, 2017

Soneto de Agosto

Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados Amamos, vagamente surpreendidos Pelo ardor com que estávamos unidos Nós que andávamos sempre separados. Espantei-me, confesso-te, dos brados Com que enchi teus patéticos ouvidos E achei rude o calor dos teus gemidos Eu que sempre os julgara desolados. Só assim arrancara a linha inútil Da tua eterna túnica inconsútil... E para a glória do teu ser mais franco Quisera que te vissem como eu via Depois, à luz da lâmpada macia O púbis negro sobre o corpo branco. Vinicius de Moraes

caprichos & relaxos [1983]

Aqui, poemas para lerem, em silêncio, o olho, o coração e a inteligência. Poemas para dizer, em voz alta. Poemas, letras, lyrics, para cantar. Quais, quais, é com você, parceiro. Paulo Leminski

Os poemas

Poemas nas pontas dos pés. que nem os sente o papel... Poemas de assombração sumindo pelos desvãos da alma... Poemas que dançam, rindo que nem crianças... Poemas de pé de pilão, um baque no coração. E aqueles que desmoronam - lentamente - sobre um caixão! Mário Quintana

Matinal

O tigre da manhã espreita pelas venezianas. O Vento fareja tudo. Nos cais, os guindastes domesticados dinossauros - erguem a carga do dia. Belas Maldições – Mário Quintana

Bolhas

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Brisa marinha

                             Tradução:  Augusto de Campos A carne é triste, sim, e eu li todos os livros. Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres, Ébrios de se entregar à espuma e aos céus                                               [ imensos. Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos, Impede o coração  de submergir no mar Ó noites! nem a luz deserta a iluminar Este papel vazio com seu branco anseio, Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.  Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas, Ergue a âncora em prol das mais estranhas                                               [ plagas! Um Tédio, desolado por cruéis silêncios, Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços! E é possível que os mastros, entre ondas más, Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem                                               [ mas- Tros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar... Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do                              

Sempre me restará amar. Escrever é...

Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia. Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera. Clarice Lispector

Das Vantagens de Ser Bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gáve

Se eu fosse eu

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Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor, sentir.  E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida.  Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.  Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é

Jogo de bola

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Recebei as nossas homenagens

Único homem acordado nesta noite, o apartamento apertado parece imenso; vagueio desacordado de tudo e sobretudo em desacordo comigo, único homem acordado no mundo; o teatro estreito assim vazio parece largo, perambulo absoluto, príncipe estragado; não dormir é meu palácio; a Dinamarca, diminuta, parece dilatar-se enquanto palmilho o ar do quarto. em o dia, e o fantasma de meu pai não me aparece. Livro Sentimental – Eucanaã Ferraz 

Todas as teorias, todos os poemas

Escrito em 11-1-1916. Todas as teorias, todos os poemas Duram mais que esta flor. Mas isso é como o nevoeiro, que é desagradável e húmido, E maior que esta flor... O tamanho, a duração não têm importância nenhuma... São apenas tamanho e duração... O que importa é a flor a durar e ter tamanho... (Se verdadeira dimensão é a realidade) Ser real é a única coisa verdadeira do mundo. Alberto Caeiro

Pafos – um nome só…

Pafos – um nome só do fundo da memória, Meus livros já fechados, longe, me fascina Das espumas querer salvar uma ruína Sob os jacintos de seus vãos dias de glória. Que corra o frio com a sua foice muda. Nenhuma nênia inócua urlará minha boca Se vórtice tão branco ao rés do chão não muda Todo lugar no honor de uma paisagem oca. Minha fome que aqui fruto nenhum exalta Encontra igual sabor em sua douta falta: Que um só rebento em carne humana e odorante! Pé sobre a serpe de onde o nosso amor sazona, Um outro sobreleva o meu pensar constante: O seio a que abrasou uma antiga amazona. 1887 . Mes bouquins refermés… Mes bouquins refermés sur le nom de Paphos, Il m’amuse d’élire avec le seul génie Une ruine, par mille écumes bénie Sous l’hyacinthe, au loin, de ses jours triomphaux. Coure le froid avec ses silences de faux, Je n’y hululerai pas de vide nénie Si ce très blanc ébat au ras du sol dénie A tout site l’honneur du paysage faux. Ma faim qui d’aucuns fruits ici ne se rég

Triunfalmente a fugir…

Triunfalmente a fugir… Triunfalmente a fugir o belo suicida, Tição de glória, espuma em sangue, ouro, tormenta! Oh! riso se me chama a púrpura perdida Ao cortejo real da tumba que me tenta. Não! de todo o fulgor nem mesmo se sustenta Um brilho, é meia-noite e a sombra nos convida, Salvo o tesouro audaz que uma cabeça ostenta No mimado torpor sem lume em que é servida. A tua, sempre, sim, delícia que me vem, A única que do céu extinto ainda retém No meu pentear, pueril, um pouco da triunfante Luz, quando a pousas, só, entre as dobras sedosas, Capacete imortal de imperatriz infante De onde, para espelhar-te, choveriam rosas. 1885 . Victorieusement fui… Victorieusement fui le suicide beau Tison de gloire, sang par écume, or, tempête! Ô rire si là-bas une pourpre s’apprête A ne tendre royal que mon absent tombeau. Quoi! de tout cet éclat pas même le lambeau S’attarde, il est minuit, à l’ombre qui nous fête Excepté qu’un trésor présomptueux de tête Verse son