Postagens

Mostrando postagens de 2018

Soneto de Agosto

Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados Amamos, vagamente surpreendidos Pelo ardor com que estávamos unidos Nós que andávamos sempre separados. Espantei-me, confesso-te, dos brados Com que enchi teus patéticos ouvidos E achei rude o calor dos teus gemidos Eu que sempre os julgara desolados. Só assim arrancara a linha inútil Da tua eterna túnica inconsútil... E para a glória do teu ser mais franco Quisera que te vissem como eu via Depois, à luz da lâmpada macia O púbis negro sobre o corpo branco. Vinicius de Moraes

Pílulas de sabedoria - Pitágoras

Imagem

Pílula de sabedoria

Imagem

Pílulas de sabedoria

Imagem
Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: ninguém é o mesmo para sempre. Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações. Lembrem-se: suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado. A escolha é sua... Pedro Bial

Desabafo de Segunda-feira

Imagem
É impossível para o espelho da alma refletir na imaginação alguma coisa que não esteja diante dele. É impossível que o lago tranqüilo mostre em sua. profundeza a imagem de qualquer montanha ou o retrato de qualquer árvore ou nuvem que não exista perto do lago. É impossível que a luz projete na terra a sombra de um objeto que não exista. Nada pode ser visto, ouvido ou de outro modo sentido, sem ter essência real. O resto é excesso. Na luta contra o mal o excesso é bom; quem é moderado em anunciar a verdade está apresentando apenas uma meia-verdade. Esconde a outra metade com receio da cólera do povo. Não vou me surpreender se os "pensadores" disserem de mim: "É um homem de excessos que se volta para o lado mais desagradável da vida e não apresenta nada mais que desgraças e lamentações." Se não entende, cumpadre, na casa da ignorância não há espelho no qual se possa ver a alma. A vida, mestre, é uma escuridão que termina na explosão da luz do dia. Sempre! Raul

Acaso

Imagem
Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai só nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas há os que não levam nada. Essa é a maior responsabilidade de nossa vida, e a prova de que duas almas não se encontram ao acaso.

Momentos

Imagem
Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar

O acendedor de lampiões

Imagem
Lá vem o acendedor de lampiões de rua! Este mesmo que vem, infatigavelmente, Parodiar o sol e associar-se à lua Quando a sombra da noite enegrece o poente! Um, dois, três lampiões, acende e continua Outros mais a acender imperturbavelmente, À medida que a noite, aos poucos, se acentua E a palidez da lua apenas se pressente. Triste ironia atroz o senso humano irrita: Ele, que doira a noite ilumina a cidade, Talvez não tenha luz na choupana em que habita. Tanta gente também nos outros insinua Crenças, religiões, amor, felicidade Como este acendedor de lampiões de rua! Jorge de Lima

Outubro Rosa

Imagem
Lindas rosas a toda mulher, Que ela viva de bem com a vida, Usando o sutiã que bem quiser, Que ela sempre se sinta querida. Que em seu peito durma alegria, Na certeza de uma dor ausente. Que o câncer não seja companhia, Mesmo se ele se mostrar latente. Que toda mulher cuide da mama, Examine-se constantemente. Pois Câncer pode ser grande drama, Matando sem dó, infelizmente. É melhor fazer a prevenção, Para não ter uma má surpresa. Prevenir pode ser solução, A vida sem câncer é beleza. Outubro Rosa chegou sorrindo, Recitou uma modesta poesia. Diz que câncer não está dormindo, E mama uma doce melodia. Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=315028 © Luso-Poemas

O relógio...

Imagem
Relógio, meu amigo, és a Vida em Segundos... Consulto-te: um segundo! E quem sabe se agora, Como eu próprio, a pensar, pensará doutros mundos Alma que filosofa e investiga e labora? Há de a morte ceifar somas de moribundos. O relógio trabalha... E um sorri e outro chora, Nas cavernas, no mar ou nos antros profundos Ou no abismo que assombra e que assusta e apavora... Relógio, meu amigo, és o meu companheiro, Que aos vencidos, aos réus, aos párias e ao morfético Tem posturas de algoz e gestos de coveiro... Relógio, meu amigo, as blasfêmias e a prece, Tudo encerra o segundo, insólito — sintético: A volúpia do beijo e a mágoa que enlouquece! Jorge de Lima

O desafio

Foi em algum lugar, foi onde a relva cresce e o mundo se dispersa e uma fogueira arde. Foi onde o sol clareia estações desterradas e um seio nu afronta a vontade da treva. Onde a sombra ensombrece os dias sepultados e no verão persiste um cheiro de jasmim e uma abelha dourada pousa na corola da majestosa flor que reina no jardim. Foi onde fervilhava o rumor das charnecas e as águas de um riacho fulgiam nas pedras e a manhã respirava a promessa da vida. Levantou-se da terra uma roxa alvorada num claro desafio ao sol esbraseado e à nuvem emudecida que no céu passava. Lêdo Ivo

Ausência

Imagem
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenc

Procura-se um amor

Imagem
Não precisa ser perfeito. Não precisa ser para sempre. Não precisa ser o maior de todos, desde que seja imenso. Aceito defeitos de várias espécies, menos a indiferença. Já vi no filme, na novela, no romance, e até na vida real (se bem que já faz um tempo.) Sei que já foi mais freqüente, ou porque antes a gente era diferente, ou porque o mundo era outro, mas ouvi dizer que existe ainda. É raro, eu sei, apesar disso procuro. Pode ser louro, moreno, bonito, feio, médio, esquisito, muito magro, meio bronco, pode ter cabelo liso ou cacheado, não importa. Se ele tiver alguma coisa de John Malkovitch misturado com Manoel de Barros, seria ótimo, mas não chega a ser exigência. De preferência, que ligue todos os dias, sempre morrendo de saudade. Seria lindo se ele me desse rosas vermelhas. (Mas também não precisa.) Exijo apenas que ele me beije arrebatadoramente sempre que a gente se encontre, que ele fique pelo menos um pouco triste toda vez que a gente brigue, que ele fique

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo — para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado. Mario Quintana

Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão… Eu passarinho! Mário Quintana

Do amoroso esquecimento

Eu agora — que desfecho! Já nem penso mais em ti… Mas será que nunca deixo De lembrar que te esqueci? Mario Quintana

A Rua dos Cataventos

Da vez primeira em que me assassinaram, Perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Depois, a cada vez que me mataram, Foram levando qualquer coisa minha. Hoje, dos meu cadáveres eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada. Arde um toco de Vela amarelada, Como único bem que me ficou. Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada! Pois dessa mão avaramente adunca Não haverão de arrancar a luz sagrada! Aves da noite! Asas do horror! Voejai! Que a luz trêmula e triste como um ai, A luz de um morto não se apaga nunca! Mario Quintana

Buscando a Cristo

A vós correndo vou, braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos, Que, para receber-me, estais abertos, E, por não castigar-me, estais cravados. A vós, divinos olhos, eclipsados De tanto sangue e lágrimas cobertos, Pois, para perdoar-me, estais despertos, E, por não condenar-me, estais fechados. A vós, pregados pés, por não deixar-me, A vós, sangue vertido, para ungir-me, A vós, cabeça baixa, pra chamar-me. A vós, lado patente, quero unir-me, A vós, cravos preciosos, quero atar-me, Para ficar unido, atado e firme. Gregório de Matos

Poema de uma quarta feira de cinzas

Entre a turba grosseira e fútil Um pierrot doloroso passa. Veste-o uma túnica inconsútil feita de sonho e de desgraça… o seu delírio manso agrupa atrás dele os maus e os basbaques. Este o indigita, este outro apupa… indiferente a tais ataques, Nublaba a vista em pranto inútil, Dolorosamente ele passa. veste-o uma túnica inconsútil, Feita de sonho e de desgraça… Manuel Bandeira

Prefácio

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) — sem nome. Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé. Insetos errados de cor caíam no mar. A voz se estendeu na direção da boca. Caranguejos apertavam mangues. Vendo que havia na terra Dependimentos demais E tarefas muitas — Os homens começaram a roer unhas. Ficou certo pois não Que as moscas iriam iluminar O silêncio das coisas anônimas. Porém, vendo o Homem Que as moscas não davam conta de iluminar o Silêncio das coisas anônimas — Passaram essa tarefa para os poetas. Manoel de Barros

Soneto de fidelidade

Imagem
De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Vinicius de Moraes

Fevereiro

Imagem
Fevereiro Escute só. Isto é muito serio. Ande, escute que isto é sério. O mundo está tremendamente esquisito. Há dez anos atrás o Li** disse que existe uma rachadura em tudo e que é assim que a luz entra não sei se entendi. (…) O amor é um animal tão mutante, com tantas divisões possíveis… Lembra daqueles termómetros que usávamos na boca quando éramos pequenininhos? lembra da queda deles no chão? então, acho que o amor quando aparece é em tudo semelhante à forma física do mercúrio no mundo quando o vidro do termómetro se quebra, o elemento químico se espalha, e então ele fica se dividindo pelos salões de todas as festas mercúrio se multiplicando… acho que deve ser isso uma das cinco mil explicações possíveis para o amor. Ah, é.. Eu gosto de você… A luz entrou torta por nós adentro, Mas olhe.. Eu gosto de você.. (…) Hoje ainda faz bastante frio. (…) A esta hora na Terra é metade Carnaval, metade conspiração, metade medo, metade fé, metade folia, metade desespero, E provavelmente, a

Difícil fotografar o silêncio

Imagem
Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei. Eu conto: Madrugada a minha aldeia estava morta. Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã. Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina. O silêncio era um carregador? Estava carregando o bêbado. Fotografei esse carregador. Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra. Fotografei a existência dela. Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre. Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a ‘ Nuvem de calça’ . Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakowski – seu criador. Fotografei a ‘ Nuvem

Ruína

Imagem
Um monge descabelado me disse no caminho: “Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro (O olho do monge estava perto de ser um canto). Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”. E o monge se calou descabelado. Manoel de Barros

O fazedor de amanhecer

Sou leso em tratagens com máquina. Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis. Em toda a minha vida só engenhei 3 máquinas Como sejam: Uma pequena manivela para pegar no sono. Um fazedor de amanhecer para usamentos de poetas E um platinado de mandioca para o fordeco de meu irmão. Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias automobilísticas pelo Platinado de Mandioca. Fui aclamado de idiota pela maioria das autoridades na entrega do prêmio. Pelo que fiquei um tanto soberbo. E a glória entronizou-se para sempre em minha existência. Manoel de Barros

Um Homem e o seu Carnaval

Deus me abandonou no meio da orgia entre uma baiana e uma egípcia. Estou perdido. Sem olhos, sem boca sem dimensão. As fitas, as cores, os barulhos passam por mim de raspão. Pobre poesia. O pandeiro bate É dentro do peito mas ninguém percebe. Estou lívido, gago. Eternas namoradas riem para mim demonstrando os corpos, os dentes. Impossível perdoá-las, sequer esquecê-las. Deus me abandonou no meio do rio. Estou me afogando peixes sulfúreos ondas de éter curvas curvas curvas bandeiras de préstitos pneus silenciosos grandes abraços largos espaços eternamente. Carlos Drummond de Andrade (do livro Brejo das Almas, 1934)

Soneto da quarta-feria de cinzas

Imagem
Por seres quem me foste, grave e pura  Em tão doce surpresa conquistada  Por seres uma branca criatura  De uma brancura de manhã raiada  Por seres de uma rara formosura  Malgrado a vida dura e atormentada  Por seres mais que a simples aventura  E menos que a constante namorada  Porque te vi nascer de mim sozinha  Como a noturna flor desabrochada  A uma fala de amor, talvez perjura  Por não te possuir, tendo-te minha  Por só quereres tudo, e eu dar-te nada  Hei de lembrar-te sempre com ternura. Rio, 1941 Vinicius de Morais