Soneto de Agosto

Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados Amamos, vagamente surpreendidos Pelo ardor com que estávamos unidos Nós que andávamos sempre separados. Espantei-me, confesso-te, dos brados Com que enchi teus patéticos ouvidos E achei rude o calor dos teus gemidos Eu que sempre os julgara desolados. Só assim arrancara a linha inútil Da tua eterna túnica inconsútil... E para a glória do teu ser mais franco Quisera que te vissem como eu via Depois, à luz da lâmpada macia O púbis negro sobre o corpo branco. Vinicius de Moraes

Soneto da quarta-feria de cinzas


Por seres quem me foste, grave e pura 
Em tão doce surpresa conquistada 
Por seres uma branca criatura 
De uma brancura de manhã raiada 

Por seres de uma rara formosura 
Malgrado a vida dura e atormentada 
Por seres mais que a simples aventura 
E menos que a constante namorada 

Porque te vi nascer de mim sozinha 
Como a noturna flor desabrochada 
A uma fala de amor, talvez perjura 

Por não te possuir, tendo-te minha 
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada 
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

Rio, 1941


Vinicius de Morais

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